terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pintura e perspectiva

A perspectiva é o método que permite a representação de objectos tridimensionais em superfícies bidimensionais, através de determinadas regras geométricas de projecção. As imagens possibilitam a percepção de uma realidade tridimensional se para tal se obedecer ao conjunto de prescrições que da Vinci expôs em Tratado da Pintura (pelo que são frequentemente conhecidas por "regras de Leonardo") [Aumont, 1993, p. 63].

Pela perspectiva linear, o artista representa um objecto tridimensional projectando-o sobre um plano a partir de um ponto - o ponto de fuga, que se encontra sobre o eixo óptico ou de visão, uma linha de horizonte imaginária. Todas as linhas de projecção da pintura convergem para esse ponto, que, apesar de poder não estar representado, tem uma relevante presença na estrutura da obra [Villafañe, 1992, pp. 98-99].
Os elementos mais distantes do olho são os que se encontram mais próximos do eixo de visão. Os objectos mais pequenos são interpretados igualmente como estando mais distanciados [Aumont, 1993, p. 41]. Contudo, não há uma equivalência inequívoca entre representações bidimensionais e o seu equivalente tridimensional. De facto, a uma mesma projecção podem corresponder diversos objectos tridimensionais [Aumont, 1993, p. 42].
A perspectiva linear baseia-se no modelo ocular, isto é, nas projecções sobre a retina (pelo que foi primeiramente designada por perspectiva naturalis). Uma perspectiva distinta é a geométrica, aplicada na pintura e na fotografia. Esta última resulta de uma convenção em parte arbitrária (donde a designação perspectiva artificialis). Na nossa percepção, a perspectiva linear está presente na maioria das vezes como uma perspectiva dinâmica, pois ao movermo-nos o nosso campo visual está em constante transformação, mas de uma forma que o cérebro interpreta como congruente [Aumont, 1993, pp. 42-43].

Uma outra técnica é a perspectiva atmosférica, que joga com variações de luz e cor. De forma a obter-se uma ilusão de profundidade, o artista emprega cores mais luminosas, contornos mais nítidos e textura mais espessa nos objectos mais próximos, sendo os mais afastados - que na tela são colocados mais acima - pintados com menos nitidez e normalmente com cores semelhantes às aplicadas no fundo. Isto porque a atmosfera terrestre, que contém poeiras e humidade, se interpõe e afecta a luminosidade dos objectos (deste modo, trata-se de uma técnica para pinturas de exterior) [Aumont, 1993, p. 43, pp. 63-64]. O "gradiante de iluminação" é uma relevante variável que fornece informação sobre a profundidade, como exemplifica a variação progressiva da luz sobre uma superfície curva [Aumont, 1993, p. 43]. A linha, por seu turno, pode também atribuir volume e profundidade, nomeadamente através do sombreado, como demonstram as gravuras de Dürer [Villafañe, 1992, p.104].

A pintura a óleo, de que Jan van Eyck foi pioneiro, veio proporcionar o desenvolvimento da perspectiva, por permitir:

  • a criação de detalhes mais intrincados e perfeitos, visto que, podendo ser mais facilmente controlado, permitia a sua aplicação com pincéis mais finos;

  • o desenvolvimento das proporções, devido ao aumento do nível de detalhe;

  • a exploração de texturas mais complexas, pois camadas de óleo podiam ser aplicadas umas sobre as outras;

  • o uso de sombras, resultantes dessas camadas.

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